segunda-feira, 5 de julho de 2010

História dos Sentimentos

História dos Sentimentos…

Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos, qualidades e defeitos dos homens em um lugar da terra.

Quando o aborrecimento havia reclamado pela terceira vez, a loucura como sempre tão louca lhe propôs: “Vamos brincar ao esconde-esconde?!”. A intriga levantou a sobrancelha intrigada e a curiosidade sem poder conter-se, perguntou, “Ao esconde-esconde?”. “É um jogo” – explica a loucura “Em que em fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão, enquanto vocês se escondem e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para assim continuar o jogo”.

O entusiasmo dançou seguida da euforia. A alegria deu tantos saltos que acabou por convencer a dúvida e até mesmo a apatia que nunca se interessa por nada. Mas nem todos quiseram participar: a verdade preferiu não se esconder, “Para quê? No final todos me encontram?”, pensou ela! A soberba opinou que era um jogo muito tonto e a covardia preferiu não arriscar-se. “Um, dois, três, quarto... ...” Começou a contar a loucura.

A primeira a esconder-se foi a presa, que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho. A fé subiu ao céu e a inveja se escondeu atrás da sombra do triunfo, que com o seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta. A generosidade quase não conseguia esconder-se, pois cada local que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum dos seus amigos: se era um lago cristalino, ideal para a beleza, se era a copa de uma árvore, perfeito para a timidez, se era o voo da borboleta, era o melhor lugar que se podia encontrar para a volúpia, se era uma rajada de vento, magnifico para a liberdade. E assim, acabou por se esconder num raio de sol.

O egoísmo, ao contrário, encontrou um local muito bom, desde o inicio: ventilado, cómodo, enorme mas apenas para ele. A mentira escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade escondeu-se atrás do arco-íris) e a paixão como o desejo esconderam-se no centro dos vulcões.

O esquecimento, por sua vez, não me recordo onde se escondeu, mas isso não é importante! Quando a loucura estava pelos novecentos e noventa e oito milhões, o amor ainda não havia encontrado um lugar para se esconder, pois estavam todos ocupados, até que encontrou uma rosa e carinhosamente decidiu esconder-se entre as suas pétalas.

“Um milhão” terminou de contar a loucura e começou a sua busca. Primeiro a aparecer foi a pressa apenas a três passos da primeira pedra que tinha caído. Depois escutou a fé discutindo com Deus no céu sobre zoologia. Sentiu a vibrar a paixão e o desejo no centro dos vulcões. E em descuido encontrou a inveja e claro, pudesse deduzir onde estava o triunfo.

O egoísmo não teve que procura-lo, saiu sozinho disparado do seu esconderijo que na verdade era simplesmente um ninho de vespas, quem quer tudo nada tem! De tanto caminhar sentiu sede e ao aproximar-se de um lago descobrir a beleza. A dúvida foi mais fácil ainda, pois encontrou-a sentada sobre uma pedra onde se encontrava para decidir onde se esconderia. E assim foi encontrando todos: o talento entre a erva fresca, a angustia em uma cova escura, a mentira atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano) e até o esquecimento que já havia esquecido que estava a brincar ao esconde-esconde!

Apenas o amor não parecia em nenhum local. A loucura procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rochedo, de cada pedra e em cima das montanhas... Quando estava a ponto de ser dada como vencida, encontrou uma roseira. Pegou num ferro e começou a mover os ramos, quando no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito, os espinhos tinham ferido o amor nos seus olhos. A loucura não sabia o que fazer para se desculpar, chorou, rezou, implorou, pediu e até prometeu ser o seu guia…

Desde então, desde que se jogou pela primeira vez, o jogo do esconde-esconde na terra: O Amor é Cego e a Loucura sempre o Acompanha...

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