A fé de uma criança
De uma conversa dissimulada que ouvir a seus pais, ficou a saber, simplesmente, que o seu irmãozito mais novo estava muito doente e que se encontravam em grandes dificuldades familiares por falta de dinheiro. Trata-se de uma menina com apenas seis anos de idade. No próximo mês, iriam mudar-se para um espaço um pouco mais pequeno, nos arrabaldes da pequena cidade, porque o seu pai não tinha recursos para pagar as contas do médico e o aluguer daquele exíguo apartamento onde moravam. Somente uma intervenção cirúrgica muito cara poderia salvar o menino, e não havia ninguém que pudesse emprestar-lhes o dinheiro.
A menina ouviu o seu pai fazer esta declaração à sua mãe chorosa: “Somente um milagre poderá salvá-lo…”.
Ficou muito triste e pensativa… “Somente um milagre poderá salvá-lo!” Esta frase não lhe saía da mente… foi ao seu quarto, abriu a gavetinha onde guardava o seu frasco-mealheiro. Despejou todo o dinheiro que tinha e conto-o cuidadosamente. O total tinha que estar exacto. Não havia margem para erro.
Colocou as moedas de novo no frasco, com cuidado, e fechou a tampa. Saiu devagarinho, pela porta dos fundos, e caminhou até chegar à farmácia…
Esperou pacientemente que o farmacêutico a visse e lhe desse atenção, mas ele estava muito ocupado no momento, conversando com um irmão seu que tinha chegado do estrangeiro.
Ela, então, esfregou os pés no chão para fazer barulho e… nada! Limpou a garganta com o som mais alto que pôde, mas nem assim foi notada. Por fim, pegou numa moeda e bateu no vidro do balcão. Foi atendida finalmente!
- O que queres, menina? – Perguntou o farmacêutico com voz sacudida. – Não vês que estou ocupado com este senhor?!
- Sim, mas eu quero falar sobre o meu irmão que se encontra muito doente! – Respondeu a menina, timidamente. – Eu desejava comprar um milagre para ele. Quanto custa?
- Como?! – Balbuciou o farmacêutico admirado.
- Ele chama-se André – acrescentou a criança – é mais pequeno que eu e tem algo muito perigoso a crescer dentro da sua cabeça, e ouvi o meu pai dizer à minha mãe que só um milagre poderá salvá-lo. E é por isso que estou aqui.
- Não vendemos milagres aqui. Não posso ajudar-te, garota – respondeu o farmacêutico, em tom mais suave, mas virando costas, como quem a despedia.
- Oiça senhor, eu tenho dinheiro para pagar! No caso de não chegar eu conseguirei o resto. Por favor, diga-me quanto custo? – Insistiu a pequena.
O senhor que antes falava com o farmacêutico era um homem gentil. Deu um passo em frente e perguntou à garota:
- Que tipo de milagre precisa o teu irmão?
- Não sei, senhor! – Respondeu ela, levantando o olhar para ele – Só sei que ele está muito mal, e a minha mãe diz que precisa de ser operado! Como o meu pai não pode pagar, quero usar o meu dinheiro…
- E quanto dinheiro tens? – Perguntou o cavalheiro.
- Vinte e dois euros e trinta cêntimos. – Respondeu a menina timidamente – É tudo o que tenho mas posso conseguir mais, se for preciso!
- Mas que coincidência, minha pequena! – Sorriu o homem – Exactamente o preço de um milagre para o teu irmãozito.
O homem pegou no dinheiro com uma mão e, dando a outra mão à menina, disse:
- Leva-me a tua casa. Quero ver o teu irmão e conhecer os teus pais. Pode ser que tenha o tipo de milagre que ele precisa.
Aquele senhor gentil era um cirurgião, especializado em neurocirurgia. A operação foi feita com sucesso e sem custos. Alguns meses depois, o André estava novamente em casa, recuperado.
A mãe e o pai, em atitude de gratidão sem limites, comentavam, alegres e felizes, a sequência dos acontecimentos ocorridos.
- A cirurgia – comentou a mãe – foi um milagre real. Quanto teria custado?!... Jamais poderíamos suportar tal despesa para salvar o nosso filho…!
A menina sorriu, pois ela sabia exactamente quanto custou o “milagre”.
Deus ou naquilo que tu queiras acreditar, coloca os recursos nos lugares exactos. Para os encontramos, basta um passo na direcção correcta. Na direcção da fé, da esperança. Aí sim, encontraremos a resposta para todos os problemas que não conseguimos resolver…
(In Boletim Salesiano)
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